terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Meu Jardim ou dos Amores Perdidos

Sou um homem de sentimentos fortes e enraizados na minha alma. Depois de tantas tragédias dignas de Homero, decidi por tornar-me mais Zen e ter, no meu recanto do lar, um pequeno jardim. Como homem normal e falho, exijo algo de meu jardim. Não muita coisa, quiça algumas que o deixem aquém de sua natureza, mas e daí, sou falho e exijo mesmo.

Quero que meu jardim, seja meu confidente. Quero poder lhe contar meus segredos, e acima de tudo, meus sonhos sem que riam deles. Já riram dos meus sonhos, até me falaram que eram estúpidos! Estúpidos são vocês. Me chamaram de louco, depois que o realizei, falaram que eu era um tipo semi-Deus. Não sou nada que não eu mesmo. Mas sempre acompanhado de um rótulo, ora estúpido e ora semi-Deus.

Quero que meu jardim seja lindo. Lindo aos meus olhos e por isso o cultivo com carinho. Para um jardim, beleza é fundamental. Flores charmosas, bambus retorcidos, pequenas construções em vermelho. Gosto de alguns detalhes que são fundamentais. Tem que ter flores cheirosas, porque o jardim não é só para os olhos. Muito menos para o olfato. Todo o conjunto tem que agradar, a priori, a alma.

Quero um jardim que me compreenda. Que cada flor diga, com toda a sinceridade de sua beleza, o que preciso ouvir. Quero também que meu jardim me conte seus segredos. Quero jardim que, a cada dia que o veja pela manhã, sinta o orgulho de poder pensar: Esse magnífico jardim é meu! Sou o responsável por ele.

Quero um jardim, com uma fonte no seu interior. Quero que o barulhinho bom da água escorrendo seja música para os meus ouvidos. Desejo também, que vez por outra, a fonte me fale algo que me faça pensar, que seja impactante na minha alma, e eu berre: Nunca havia pensado nisto! Você é demais!

O meu jardim tem que gostar de mim, e me conhecer profundamente. Quero que ele me surpreenda todos os dias. Poderia muito bem um dia presentear-me com um beija-flor. No outro dia, poderia ter uma bela borboleta. Quem sabe, seja tão profundo que um dia me traga um camaleão ou talvez alguns sapos.

Quero que o jardim seja paciente com a natureza. Só será belo se for paciente com as lagartas, afinal, um dia serão belas boroboletas. Quero que o jardim administre seus problemas e me traga outros. Poderá muito bem dar um jeito nas formigas!

Enfim, quero apenas um jardim que seja a representação daquilo que me é falho na alma.

Um comentário: